quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

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... um dia destes enviaram-me um texto do Miguel Esteves Cardoso que, na minha opinião, para além de estar absolutamente bem escrito, espelha aquilo que, pelo menos para mim, seria muito complicado expressar em palavras. Para quem me conhece, sou uma pessoa que facilmente demonstra aquilo que sente, num simples olhar ou gesto; num sorriso ou numa lágrima; num abraço ou numa atitude. Ou seja, aquilo que sinto, normalmente transporto cá para fora, com uma facilidade tremenda e assustadora, correndo o risco de, algumas vezes, dar um tiro no próprio pé.
 
O texto é este e está aqui:   http://milideiasidiotas.blogspot.pt/2013/01/obrigada-amiga.html . Revi-me nele em 100%!
 
No outro dia, li outro texto. Toca também no mesmo tema, mas noutra perspetiva. Uma perspetiva menos simpática, mais sofredora, mais desesperante. Aquela que nenhum humano, no seu estado perfeito de saúde mental (pelo menos essa), gostaria de sentir e muito menos vivênciá-la.
 
Se o texto acima me tocou a 100%, este, que deixo aqui, também me tocou. Hoje, não consigo perceber se foi a 10%; a 30%; a 70% ou a 100%. Honestamente, tenho medo de vir a perceber. Principalmente pela dor que normalmente comporta.
 
Aqui fica o texto sabendo que, se esta dor vier, sou suficientemente forte para passar por cima dela. Nem que seja apenas no meu estado consciente. O inconsciente esse ... tratarei depois!
 
"Destino ausente de chegada."
"Saber desistir, por vezes, é uma virtude." Não precisava que lho dissessem. Há muito que tinha desistido, há muito que aceitara que o amor às vezes é mesmo assim: acontece porque está destinado a acontecer, acaba porque o destino assim o quis. Não entendia, contudo a utilidade do amor que desperdiçara, que ainda desperdiçava. Nunca deixou de o amar, apenas seguiu a vida amando outros e guardou-o na caixinha mais distante da sua vida.
Já tinha desistido há tanto tempo que lhe parecia agora, nunca ter sequer tentado. Mentira ou verdade, o certo é que o amava. Uns dias mais, outros menos, mas para sempre. Por vezes esgueirava-se ela na sua vida ou ele na sua, a saudade apertava, o coração descompassava novamente, e a boca ficava seca de saliva e palavras. Por uma razão ou outra, caía sempre em si e voltava a desistir daquilo que nunca tentara na realidade.
Sabia que tinha nascido destinada a ele. Só a ele. Ele, porém, não o sabia ao certo. Soube que a desejara, que lhe deu tudo o que tinha no tempo efémero que partilharam, mas nada mais a fazia ter certezas que era amor a dois e não por um. Não tem coragem de confrontá-lo com essa pergunta que ficou sempre pendente de resposta e, no fundo, prefere assim. Sofre na dúvida, sofreria muito mais se soubesse que não tinha já lugar na sua mente e no seu coração.
Diziam-lhe que não causa dor o que não se vê. Como lhe doía a ausência do seu olhar. Como lhe amargava na boca as palavras doces que lhe queria dizer e ficavam presas na nulidade da sua presença. Sim, tinha desistido. Entregou as armas e virou costas ao amor da sua vida. Sentia culpa, por vezes. Resignação, quase sempre. O passado não se pode mudar, principalmente quando o presente foi construído com alicerces diferentes, alheios ao amor que poderiam ter vivido.
Hoje, adormece e acorda com uma breve visita ao seu rosto, aos seus olhos, à sua voz. Um acto agridoce, mas completamente inconsciente e involuntário, na vontade que a sua alma tem de se unir à dele, como acha que a vida previa que acontecesse. Não aconteceu. Não sabe se algum dia o destino se cumprirá. Sabe apenas, como certeza inabalável, que irá amá-lo para sempre. E sempre é demasiado tempo para viver uma presença, que no fundo é ausência, dolorosa e constante.

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